18 de
julho de 2013 | RETIRADO JORNAL ZERO HORA
L.
F. VERISSIMO
·
O que significa orégano
Você
eu não sei, mas eu estou preocupadíssimo com a revelação de que os americanos
têm monitorado tudo que é dito e escrito no Brasil nos últimos anos. Ouvem
nossos telefonemas, lêem nossos e-mails e provavelmente examinem o nosso lixo,
atrás de indícios da nossa periculosidade. O que me preocupa é que esta
informação, depois de coletada e classificada, seja analisada talvez pelas
mesmas pessoas que nunca duvidaram que o Saddam Hussein tivesse armas de
destruição em massa e nunca estranharam que os sequestradores daqueles aviões
que derrubaram as torres, no onze de nove, não se interessassem pelas aulas de
aterrissagem nos seus cursos de aviação. Quer dizer, que garantia nós temos de
que não se enganarão de novo, e verão ameaças à segurança americana nas nossas
comunicações mais inocentes? Um simples telefonema entre namorados (“desliga
você”, “não, desliga você”) pode ser interpretado como parte de um plano para
sabotar centrais elétricas. Um pedido para troca de bujão de gás, uma evidente
referência cifrada à explosão da Casa Branca. O fato é que tenho tentado
recapitular todos os meus telefonemas e e-mails nos últimos anos, com medo de
que um deles, mal interpretado, acabe provocando minha aniquilação por um
drone.
Ou então me vejo chegando aos Estados Unidos, sendo barrado por um agente da
imigração e levado para uma sala sem janelas, onde sou cercado por outros
agentes, provavelmente da CIA, que me pedem explicações sobre um telefonema,
obviamente em código, que fiz antes de viajar. Reconheço minha voz na gravação.
– O que quer dizer “à calabresa”, Mr. Verissimo? – pergunta um dos agentes.
Estou confuso. Não consigo pensar. Calabresa, calabresa...
– Alguma referência à máfia? Uma ligação da organização terrorista à qual o
senhor evidentemente pertence, como a camorra, visando a um atentado aqui nos
Estados Unidos? O senhor veio se encontrar com a máfia americana para acertar
os detalhes do complô. É isso, Mr. Verissimo?
– Não, não. Eu...
– Notamos que, mais de uma vez na gravação, o senhor diz “sem orégano, sem
orégano”. Deduzimos que há uma divergência dentro do complô entre vocês e a
máfia, uns a favor de se usar “orégano” no atentado, outros contra. O que,
exatamente, significa “orégano”?
Finalmente, me dou conta.
– Orégano significa orégano. Eu estava pedindo uma...
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