Pesquisa feita com alunos de escolas públicas e privada da região
metropolitana de São Paulo mostra que adolescentes usam a pílula do dia
seguinte sem conhecer bem suas indicações, seus efeitos colaterais e sua
eficácia.
Publicado em 15/08/2013 | Atualizado em 15/08/2013
A pílula do dia seguinte não deve ser usada com freqüência, pois pode
provocar efeitos adversos e sua eficácia pode diminuir. (foto: Marcos Santos/
USP Imagens)
Em junho deste ano, a venda da pílula de contracepção de emergência,
conhecida como pílula do dia seguinte, foi liberada para menores de 17 anos nos
Estados Unidos, após quase dez anos de tramitação do processo no
Congresso norte-americano. No Brasil, esse método contraceptivo já é vendido em
farmácias sem restrições e, desde o início do ano, começou a ser
disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – para qualquer faixa etária
– sem a exigência de receita médica e de forma assistida.
Embora nem sempre acessível, a pílula
do dia seguinte é bem conhecida dos adolescentes. Mas informações sobre sua
indicação, seus efeitos colaterais e sua eficácia ainda não são entendidas com
clareza. As conclusões são de uma pesquisa realizada na Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo (USP) com 705 alunos entre 15 e 19 anos de escolas
públicas e privadas do município de Arujá, região metropolitana do estado.
Um dado
preocupante é que 57,7% dos adolescentes entrevistados disseram já ter recorrido
à contracepção de emergência
O estudo, feito durante o mestrado da obstetriz Christiane Borges na
USP, baseou-se em um questionário realizado em maio de 2011 que continha dez
afirmativas sobre a pílula do dia seguinte, às quais os alunos deveriam atribuir
os termos ‘verdadeiro’, ‘falso’ e ‘não sabe’. O resultado mostrou que 92% dos
adolescentes já tinham ouvido falar desse método. “Mas a grande maioria não
conhecia aspectos importantes associados à pílula, como seu modo de aplicação
ou sua eficácia”, conta a pesquisadora.
Outro dado preocupante é que 57,7% dos
adolescentes entrevistados disseram já ter recorrido à contracepção de
emergência, embora não tenham sido relatados casos de uso abusivo. Segundo
Borges, a maioria fez essa opção por insegurança, causada pela falha ou
descontinuidade de outros métodos contraceptivos que já vinham sendo usados
anteriormente. “Adolescentes costumam associar o método contraceptivo ao tipo
de relacionamento que têm no momento”, explica a obstetriz. Em relacionamentos
mais longos, por exemplo, é comum que o uso da camisinha seja substituído pela
pílula anticoncepcional.
Informações pouco confiáveis
Segundo a pesquisadora, também preocupa
o fato de o profissional de saúde ter sido pouco citado pelos adolescentes como
fonte de informação sobre a pílula do dia seguinte. “Existe, sim, uma vontade
de saber mais sobre o assunto, mas muitos desses adolescentes buscam
informações em lugares pouco confiáveis”, lamenta.
Para 48,2% dos estudantes, grande parte
das informações sobre a pílula do dia seguinte veio de conversas e trocas de
experiências entre amigos. Isso mostra segundo Borges, que muito do
conhecimento dos adolescentes sobre a contracepção de emergência é fragmentado,
além de não ser confiável.
Entre os entrevistados, as meninas
mostraram maior conhecimento sobre a pílula do dia seguinte. Para a obstetriz,
isso pode ser resultado da atribuição da responsabilidade pela adoção de
métodos contraceptivos à mulher e também do fato de este ser um método de uso
feminino.
A pesquisa mostrou ainda que apenas
6,8% dos adolescentes buscaram a contracepção de emergência no serviço público,
enquanto 74,6% compraram a pílula na farmácia. Os adolescentes que recorreram
ao SUS relataram algumas barreiras em relação à obtenção da pílula. Além disso,
em alguns casos, o medicamento estava indisponível nos postos de saúde.
Com a disponibilização da contracepção
de emergência sem receita médica pelo SUS a partir do início deste ano, o
acesso gratuito a esse método e a informações seguras sobre ele pode ser
ampliado. Quando uma mulher procura o serviço público de saúde em busca da
pílula do dia seguinte, os profissionais prestam orientações sobre a
aplicabilidade e o uso responsável desse método contraceptivo e destacam que
ele deve se restringir a situações de emergência, para evitar uma possível
gravidez.
Paixão:
Um dos erros mais corriqueiros é o uso freqüente da pílula de contracepção de
emergência
A ginecologista Ana Cristina Paixão, do
Instituto Fernandes Figueira (IFF/ Fiocruz), alerta sobre os riscos do uso da
contracepção de emergência sem a orientação adequada. Segundo ela, um dos erros
mais corriqueiros é o uso freqüente da pílula. Apenas uma dose do medicamento
carrega uma alta quantidade de hormônios, que podem alterar o ciclo menstrual.
Além disso, a ginecologista ressalta que a eficácia da pílula do dia seguinte
diminui com o uso de doses sucessivas. “A informação é muito importante para a
conscientização da população de que a pílula é um método de socorro e não de
utilização habitual”, reforça.
Paixão comenta que existe uma
dificuldade de acesso aos serviços públicos de ginecologia, principalmente
quando se trata da faixa etária dos adolescentes. “Apesar da grande procura,
são poucos os serviços de referência em atendimento a adolescentes e buscar
informação adequada fica complicado”, diz a ginecologista. E completa: “Essa
falta de cobertura tem seu preço: eles passam a tomar medicações de forma
inadequada.”
FERNANDA TÁVORA
Ciência Hoje On-line
FERNANDA TÁVORA
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