Uma segunda etapa
(1969 a 1971) foi consagrada ao detalhamento e à
articulação do conjunto da obra.
Durante esse período, realizaram-se reuniões
internacionais de especialistas em
Paris (1969) e Addis-Abeba (1970), com o
propósito de examinar e detalhar os
problemas relativos à redação e à publicação da obra: apresentação em oito
volumes, edição principal em inglês, francês e árabe, assim como traduções para
línguas africanas, tais como okiswahili, ohawsa, o peul, o yoruba ou o lingala.
Igualmente estão previstas traduções para o alemão, russo, português, espanhol
e chinês1, além de edições resumidas, destinadas a um público mais amplo, tanto
africano quanto internacional.
1 O volume I foi publicado em inglês,
árabe, chinês, coreano, espanhol, francês, hawsa, italiano, kiswahili,peul e
português;
2. o volume II, em inglês,árabe,
chinês, coreano, espanhol, francês, hawsa, italiano,kiswahili, peul e
português;
o volume III, em inglês, árabe,
espanhol e francês;
o volume IV, em inglês,árabe, chinês,
espanhol, francês e português; o
o volume V,em inglês e árabe;
o volume VI, em inglês,árabe e
francês;
o volume VII, em inglês, árabe,
chinês, espanhol, francês e português;
o VIII, em inglês e francês.XXIV Metodologia e
pre‑história da África
A terceira e última
fase constituiu-se na redação e na publicação do trabalho.
Ela começou pela nomeação de um Comitê
Científico Internacional de trinta e
nove membros, composto por africanos e
não africanos, na respectiva proporção de dois terços e um terço, a quem
incumbiu-se a responsabilidade intelectual pela obra.
Interdisciplinar, o
método seguido caracterizou-se tanto pela pluralidade
de abordagens teóricas quanto de
fontes. Dentre essas últimas, é preciso
citar primeiramente a arqueologia,
detentora de grande parte das chaves da
história das culturas e das
civilizações africanas. Graças a ela, admitem-se, nos dias atuais, reconhecer
que a África foi, com toda probabilidade, o berço da
humanidade, palco de uma das primeiras
revoluções tecnológicas da história,
ocorrida no período Neolítico. A
arqueologia igualmente mostrou que, na
África, especificamente no Egito,
desenvolveu-se uma das antigas civilizações
mais brilhantes do mundo. Outra fonte
digna de nota é a tradição oral que,
até recentemente desconhecida, aparece
hoje como uma preciosa fonte para
a reconstituição da história da
África, permitindo seguir o percurso de seus
diferentes povos no tempo e no espaço,
compreender, a partir de seu interior, a
visão africana do mundo, e apreender
os traços originais dos valores que fundam as culturas e as instituições do
continente.
Saber-se-á reconhecer
o mérito do Comitê Científico Internacional
encarregado dessa Historia geral da Africa, de seu relator, bem como de seus
coordenadores e autores dos diferentes
volumes e capítulos, por terem lançado
uma luz original sobre o passado da
África, abraçado em sua totalidade, evitando todo dogmatismo no estudo de
questões essenciais, tais como: o tráfico negreiro,essa “sangria sem fim”,
responsável por umas das deportações mais cruéis da história dos povos e que
despojou o continente de uma parte de suas forças vivas, no momento em que esse
último desempenhava um papel determinante no progresso econômico e comercial da
Europa; a colonização, com todas suas consequências nos âmbitos demográfico,
econômico, psicológico e cultural;as relações entre a África ao sul do Saara e
o mundo árabe; o processo descolonização e de construção nacional, mobilizador
da razão e da paixão de pessoas ainda vivas e muitas vezes em plena atividade.
Todas essas questões foram abordadas com grande preocupação quanto à
honestidade e ao rigor científico, o que constitui um mérito não desprezível da
presente obra. Ao fazer o balanço de nossos conhecimentos sobre a África,
propondo diversas perspectivas sobre as culturas africanas e oferecendo uma
nova leitura da história, a Historia geral
da Africa tem
a indiscutível vantagem de destacar tanto as luzes quanto assombras, sem
dissimular as divergências de opinião entre os estudiosos.
Ao demonstrar a
insuficiência dos enfoques metodológicos amiúde utilizados na pesquisa sobre a
África, essa nova publicação convida à renovação e aprofundamento de uma dupla
problemática, da historiografia e da identidade cultural, unidas por laços de
reciprocidade. Ela inaugura a via, como todo trabalho histórico de valor, para
múltiplas novas pesquisas.
É assim que, em estreita colaboração
com a UNESCO, o Comitê Científico
Internacional decidiu empreender
estudos complementares com o intuito de
aprofundar algumas questões que
permitirão uma visão mais clara sobre certos
aspectos do passado da África. Esses
trabalhos, publicados na coleção UNESCO.
– Historia
geral da Africa:
estudos e documentos, virão a constituir,
de modo útil, um suplemento à presente obra2. Igualmente, tal esforço
desdobrar-se-á na elaboração de publicações versando sobre a história nacional
ou sub-regional. Essa Historia geral da Africa coloca
simultaneamente em foco a unidade histórica da África e suas relações com os
outros continentes, especialmente com as Américas e o Caribe. Por muito tempo,
as expressões da criatividade dos afrodescendentes nas Américas haviam sido
isoladas por certos historiadores em um agregado heteróclito de africanismos; essa visão, obviamente, não corresponde àquela
dos autores da presente obra. Aqui, a resistência dos escravos deportados para
a América, o fato tocante ao marronage
[fuga
ou clandestinidade] político
e cultural, a participação constante e
massiva dos afrodescendentes nas lutas da primeira independência americana, bem
como nos movimentos nacionais de
libertação, esses fatos são justamente
apreciados pelo que eles realmente foram:vigorosas afirmações de identidade que
contribuíram para forjar o conceito universal de humanidade. É hoje evidente
que a herança africana marcou, em maior ou menor grau, segundo as regiões, as
maneiras de sentir, pensar, sonhar e agir de certas nações do hemisfério
ocidental. Do sul dos Estados Unidos ao norte do Brasil, passando pelo Caribe e
pela costa do Pacífico, as contribuições culturais herdadas da África são
visíveis por toda parte; em certos casos, inclusive, elas constituem os
fundamentos essenciais da identidade cultural de alguns dos elementos mais
importantes da população.