Apelidada de Rainha
do Baião por Luiz Gonzaga, Carmélia viveu o auge de sua carreira entre as
décadas de 1940 e 1970.
O GLOBO-
RIO - Em seu último show "As
eternas cantoras do rádio", em setembro de 2009, na Academia Brasileira de
Letras, Carmélia Alves se apresentava com as companheiras Ellen de Lima e
Carminha Mascarenhas. Foi quando ela se esqueceu dos versos da música
"Ninguém em ama", que tanto cantara na época de ouro da Rádio
Nacional.
O público acompanhou, mas ela abaixou a cabeça e não cantou mais. Aquele
momento marcou o adeus de Carmélia, grande cantora que representa parte da
história da música brasileira com suas interpretações alegres e apaixonadas.
Nascida em fevereiro de 1923, na
cidade do Rio de Janeiro, Carmélia Alves era filha de Raimundo, nascido no
Ceará e da baiana Adelina. Ainda pequena, mudou-se com a família para Areal, em
Petrópolis, onde foi criada. Com 17 anos voltou ao Rio para estudar e começou a
se interessar por música, especialmente as cantadas por Carmen Miranda. Chegou
a participar de programas "Calouros em desfile" e "Estrada do
Jacó", comandados por Ary Barroso no final da década de 1930.
Apesar de brilhar nas rádios Cruzeiro do Sul e Tupi, foi no ambiente do
Copacabana Palace que Carmélia teve os primeiros contatos com grandes nomes da
música brasileira e do cenário internacional. Em 1940, quando ela já cantava na
Rádio Mayrink Veiga, foi convidada pelo locutor César Ladeira para fazer o
horário que antes era de Carmen Miranda. Nesta época, ela conheceu o cantor
Jimmy Lester, morto em 1998, com quem ficaria casada durante 54 anos.
No final dos anos 1940, os boleros,
ranchos e marchas tomavam conta das rádios. Mas, em meio a esses gêneros já
consolidados, a música "Me leva" composta por Hervê Cordovil e
lançada em disco por Ivon Curi e Carmélia se destacou. A partir daí, na década
de 1950, Carmélia interpretou grandes sucessos do baião como "Trepa no
Coqueiro" (Ari Kerner, 1950), "Sabiá na gaiola" (Hervê Cordovil,
1950) e "Cabeça inchada" (Hervê Cordovil, 1951).
Na época foi apelidada de Rainha do Baião pelo amigo Luiz Gonzaga, com
quem fez o show histórico no Teatro João Caetano no projeto "Espetáculo
das Seis e Meia", que deu origem ao disco "Luiz Gonzaga & Carmélia
Alves", gravado ao vivo em 1977. Lançou mais de 40 Lps e, além de cantar,
também participou dos filmes "Tudo Azul" (1952), "Agulha no
palheiro (1953) e "Trabalhou bem, Genival" (1955). Em 2008, sua
trajetória foi retratada em "As cantoras do rádio", dirigido pelo
crítico musical Ricardo Cravo Albin.
Desde 2010, vivia no Retiro dos
Artistas, assim como sua companheira da época das "Cantoras do rádio"
Carminha Mascarenhas, que morreu no início deste ano. Carmélia sofria de
Alzheimer e morreu na noite de sábado, aos 89 anos, vítima de complicações
cardíacas, no Hospital das Clínicas de Jacarepaguá, onde estava internada havia
20 dias.
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