terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Como ex-fumante entendo perfeitamente as angústias do autor do texto, pois são realmente uma caça as bruxas aos fumantes. Alguns casos em nome de uma maioria enlouquecida são perseguidos e tratados como os antigos leprosos (termo errado usado propositalmente), como os aidéticos foram a pouco tempo tratados e outros mais. A história do politicamente correto às vezes chega às raias da sandice. Será que alguma dessas pessoas faria uma campanha contra o álcool, por exemplo. Que destrói famílias mata pessoas e muito mais coisas terríveis. E não me venham com essa besteira usada nos comercias que dizem BEBA COM MODERAÇÃO, depois de nos enfiarem goela a baixo belas mulheres, lugares paradisíacos para os que como eu gostam de um birita. Só que não sou burro nem passivo com esse tipo de propaganda. Ou pelo menos penso não ser tão burro.

E O VÍRUS SE ESPALHA POR GUILHERME SCAZILLI_TEXTO RETIRADO DO BLOG AMÁLGAMA

         Há tempos os sensatos avisam que é necessário impedir a transformação do interesse coletivo num pretexto para restringir as liberdades individuais. Que os desafios do mundo contemporâneo exigem mais tolerância e menos opressão. Que as legislações proibicionistas voltadas ao consumo de substâncias estão fadadas ao fracasso. E finalmente que a própria filosofia da limitação de direitos pode alimentar sucessões crescentes de arbitrariedades, chegando a exageros tenebrosos e talvez irreversíveis.
         Ninguém ouviu. Afinal, se nos acostumamos à inútil Lei Seca em estádios paulistas ou à escandalosa proibição da Marcha da Maconha, certamente aceitaríamos qualquer tirania gratuita que viesse acompanhada por certa aura civilizada e saneadora. Assim nasceu a perseguição ao tabaco. Primeiro endossamos os mentirosos ataques aos fumódromos. Depois permitimos que a ingerência estatal sufocasse o livre-arbítrio de proprietários e clientes. Então aceitamos que as milícias expulsassem os fumantes até das calçadas adjacentes aos bares e restaurantes. Agora, graças a uma iniciativa do deputado estadual Vinicius Camarinha (PSB), estamos prestes a ver praças, parques e praias tomados pelo expurgo antitabagista. Praias, senhoras e senhores.
          Amedrontados com a inevitabilidade da descriminalização das drogas (em especial da maconha) e constrangidos pelas incoerências de um sistema tributário-consumista que não dá a mínima para a saúde do cidadão, os legisladores de índole retrógrada tomam caminho oposto ao do bom-senso. Criam instrumentos para excluir da vida social todos os abelhudos que tiverem a pachorra de menosprezar o culto à longevidade, esse deus enganador que ilumina o conservadorismo planetário. No limite, contribuem para destruir a alteridade, forjando uma sociedade homogênea e falsamente “saudável” dominada por eleitos que obedecem a determinados padrões físicos e comportamentais. Numa versão politicamente correta de eugenia, o Estado penaliza contribuintes adultos, honestos e conscientes, impedindo-os de gozar prerrogativas legítimas em pleno espaço público, só porque uns Mengeles da sociabilidade afirmaram que inexistem “níveis seguros” para a permanência deles entre os “normais”.
          A caça aos fumantes baseia-se no repertório de mistificações que costuma povoar os mais variados ambientes totalitários. O tal “direito de não ser incomodado”, que só contempla uma parte da população, é típico do fascismo. Em nome do bem-estar coletivo, hansenianos e portadores de outras doenças também foram perseguidos e confinados. Obesos e homossexuais sofrem discriminações por motivos parecidos. A classe médica, incapaz de lidar com fumantes longevos e atletas enfartados, dá embasamento pseudocientífico a truculências profiláticas que jamais ousaria cometer, por exemplo, contra as fumaças do transporte urbano ou os agrotóxicos cancerígenos. E a OAB silencia diante dessa inconstitucionalidade flagrante, uma entre dezenas que fazem a vergonha do Supremo Tribunal Federal.
          Depois de iniciada, a epidemia repressiva apodrece os órgãos da sociedade, todos, sem exceções legalistas que nos protejam. Combatamos a escalada autoritária enquanto ainda podemos denunciá-la.

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