terça-feira, 7 de maio de 2013

UM POVO EXISTE QUANDO RESPEITA E PRESERVA SUA CULTURA. COMO UM APAIXONADO POR ESSA TERRA PENSO QUE A IMPORTÂNCIA DESSE FATO É ALGO MUITO MAS MUITO MARCANTE PARA TODOS QUE AQUI VIVEM.


Linguajar cuiabano é tombado como patrimônio imaterial de Mato Grosso
Registro foi publicado no Diário Oficial do Estado no dia 22 de abril.
Tombamento é parte das ações de comemorações dos 265 anos do estado.


Renê Dióz-Do G1 MT

Agora tombado como patrimônio, linguajar cuiabano é mistura da fala lusitana com influências indígenas, negras e dos bandeirantes paulistas. (Foto: Acervo Arq. Ademar Poppi)
Como parte das comemorações dos 265 anos de Mato Grosso, a Secretaria estadual de Cultura (SEC) decretou no último dia 22 o tombamento do linguajar cuiabano como patrimônio imaterial do estado. O modo de falar peculiar da região - com seus fonemas, vocabulário, expressões e detalhes que o distinguem dos falares do restante do país - passa agora a ser protegido pelo poder público do risco de desaparecimento.
A portaria da SEC foi publicada no Diário Oficial do Estado e tem como resultado prático a tomada de iniciativas, por parte do estado, para registrar o linguajar e fomentar seu uso.
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De acordo com o texto, o linguajar cuiabano "faz parte da história de Cuiabá e do estado de Mato Grosso e, hoje, muito do falar cuiabano com seu sotaque caiu em desuso por grande parte de seus habitantes, permanecendo com o povo mais antigo e moradores ribeirinhos, que buscam preservar a história de seu sotaque". A portaria enaltece o "cuiabanês" como instrumento de consolidação cultural.
"Achamos justo tombar o linguajar cuiabano como forma de preservar uma identidade cultural na história de Mato Grosso", argumentou a secretária Janete Riva, que assinou a portaria responsável pelo registro do linguajar regional como patrimônio imaterial. A SEC deve lançar na próxima quinta-feira (9) projeto de divulgação e registro do falar cuiabano por meio de solenidade que contará com um sarau na sede da Academia Mato-grossense de Letras.

O poeta Moisés Martins, autor de versos já clássicos da cultura regional, acredita que a preservação da cultura local inteira passa necessariamente pela sobrevivência do linguajar. Por isso, mais que um decreto tombando o falar cuiabano como patrimônio, ele defende que as escolas façam dele um objeto de estudo.
“Eu acredito que foi com a melhor das intenções, mas não é por aí que vai resgatar o linguajar cuiabano”, declarou em entrevista ao MTTV 1ª dição desta segunda-feira (6). Além de apontar a influência dos forasteiros no processo de desaparecimento dos traços da fala local e do desuso de algumas expressões, ele acredita que a grande enchente de 1964 na cidade foi responsável pelo início desse processo, pois dispersou os ribeirinhos então responsáveis por desenvolver esse jeito de falar. “Aí começou a derrocada do linguajar cuiabano”, lembra.
“Cuiabanês”
Segundo o professor universitário aposentado William Gomes, que deve lançar em cerca de dois meses mais uma edição do “Dicionário Cuiabanês” (com mais de 12 mil verbetes), o falar cuiabano é nada mais que um amálgama formado a partir do sotaque trazido pelos colonizadores oriundos da região norte de Portugal, na fronteira com a Espanha, cujo idioma foi responsável por transformar alguns fonemas lusitanos.
          
            Entre outros, é por força de arcaísmos destes portugueses do norte que, segundo William, o cuiabano tende a trocar o “ão” ao fim das palavras por “on” e, em algumas sílabas, tende a substituir a letra “l” pelo “r”.
Ao longo de duzentos anos de isolamento sofrido por Cuiabá, o linguajar trazido pelos lusitanos acabou recebendo influências indígenas, dos negros e dos bandeirantes paulistas. Acabou sendo caracterizado por outros sons e pelo canto na pronúncia de algumas frases, além de expressões só usadas aqui.
Após consolidar-se junto a outros traços culturais, como a culinária e as danças locais, o linguajar cuiabano passou a sofrer choques culturais com a democratização do rádio e da televisão. Os nativos passaram a perceber que falavam diferente de outros brasileiros e, ao invés de orgulhar-se do traço local, passaram a rejeitá-lo. “Pega a população nascida em Cuiabá. Metade acha feio falar cuiabanês”, comenta o professor.

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