segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O professor e o ciberespaço, por Neiff Satte Alam*



Interessado por determinado tema, acessei o Google. Rapidamente encontrei o que procurava. Ali estava pronto, sem nenhum trabalho extra, sem gastar muito tempo para pensar, e até sem pensar muito, o resultado de minha pesquisa eletrônica. Bons tempos estes novos tempos, mas, refletindo melhor, uma inicialmente breve preocupação passou a ser uma enorme preocupação, não comigo, mas com as crianças e adolescentes que, antes de apertarem os botões e as teclas dos aparelhos eletrônicos e entrarem no ciberespaço, necessitam desenvolver sua criatividade, dar asas à imaginação e desenvolver uma prática reflexiva que os coloque no mundo real antes de dominarem o mundo virtual e toda a tecnologia disponível.

            A linguagem gestual que nos faz caminhar, falar e pensar; a relação direta com a natureza, onde podemos observar a harmonia de um sistema ecológico em permanente luta por equilíbrio; as brincadeiras em grupos de crianças, soltando pipas, jogando bolinhas de gude ou piões, colecionando figurinhas ou em um simples pega-pega ou esconde-esconde, constituem-se em preparações para uma vida real que enfrentará a virtualidade da máquina e permitirá, então, uma inserção positiva no ciberespaço. Uma inserção que nos colocará em vantagem sobre a máquina e nos permitirá desfrutar de toda a informação que pudermos recolher da internet, com uma capacidade enorme de separar o “lixo” do “útil”.

           É na escola, na sala de aula, sob a orientação de um professor, que tudo isto poderá ocorrer. Quanto mais informatizado for o planeta, quanto maior for o espaço cibernético, quanto mais informações estiverem disponíveis, maior será a necessidade e importância do professor. Um professor dos novos tempos, atualizado, interessado e respeitado.

           O Google não é um professor, pois limita-se a ser um sítio de informações, e o professor, que não é o Google, é quem permitirá, através de um processo de ensino-aprendizagem, que esta informação se transforme em conhecimento.

            De nada teria me ajudado a procura de uma informação no Google se não tivesse tido antes um exército de professores, que me ensinaram a ler, escrever e realizar as primeiras operações matemáticas. Soltar pipas e lançar o pião, depois construir pipas e piões, finalmente ensinar crianças a utilizar e até a produzir esses brinquedos, constitui-se em uma forma de prepará-las para um mundo onde as informações surgem com uma velocidade maior do que nossa capacidade de absorvê-las.

            Se o professor do século passado era importante, o deste século é essencial para que estas gerações possam se desenvolver plenamente, mas dominando a máquina, dominando o ciberespaço e conscientes de que o ato de ensinar e aprender são fundamentais para usufruirmos desta fantástica tecnologia e deste momento ímpar da humanidade em que as fronteiras do pensamento inexistem.
*Professor universitário aposentado da UFPel e especialista em Informática na Educação
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