Por um lado, o ato de ler é solitário, posto que o indivíduo se resguarda em silêncio, livro às mãos, concentrado, quase num cumprimento de uma especial prece, de um ato sagrado (talvez seja). Por outro lado, o leitor é alguém conversando com ideias, com imagens, com uma herança, com algo que outro lhe repassa. Este outro, tal ao leitor, é uma teia de experiências e isso significa gente, multiplicidade, encontro. O leitor é alguém que encontra muitas pessoas ao adentrar o mistério de um livro. Está só e não está.
A pressa e a impaciência atentam contra a boa leitura. Tudo o que excita demais, idem. Os desejos, o calor, o frio excessivo, a fome, a cabeça fora do eixo, tudo que leve o olhar e o coração para a luz perdida do mundo, a luz de faca do mundo, a voragem, tudo que seja por demais mundo e distração sequestram o leitor de sua tarefa.
E ler, apesar de ser trabalho, é prazer, viagem, ir e vir, êxtase, deixar-se no entre mundos que inunda a rotina. Ler quebra a rotina, habitua o indivíduo a precipícios e noites, a ver onde outros sequer tateiam. É preciso criar o hábito, pois ler não é natural. Torna-se.
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