sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Brasil ame-o ou deixe-o


GUSTAVO HOFMAN-RETIRADO SITE DA ESPN





Sempre que ouço Rolling Stones, Led Zeppelin, The Doors ou Pink Floyd vem a minha mente a ideia de ter nascido há algumas décadas. Nasci em 1981, mas sempre me pego pensando em como seria se tivesse crescido nos anos 1960 e 70. Curtiria ao máximo a efervescência do rock and roll e viveria a rebeldia de então. Mas sou brasileiro, com muito orgulho, e sei que nesse período houve uma das mais cruéis ditaduras do mundo no nosso país. Rapidamente fico contente por ter ido ao show dos Stones em Copacabana, ao do Roger Waters no Morumbi e a um do que restou dos Doors em Jaguariúna. Ainda preciso escutar Kashmir ao vivo. Raul Seixas, infelizmente, nunca terei a chance.
          Não vivi a ditadura no Brasil. Quando nasci, esta já estava no fim, e quando comecei a compreender o mundo nosso país já esboçava uma democracia. Já fui bem mais ligado em política, admito. Valorizo demais a manifestação livre de ideias e ideais, o livre pensamento, a possibilidade de viver como quiser. O livre-arbítrio.
          No entanto, nesta quinta-feira, me senti em uma máquina do tempo, só que sem o velho e bom rock and roll. Ao acompanhar pela televisão a apresentação de Luiz Felipe Scolari como novo técnico da Seleção Brasileira e Carlos Alberto Parreira como Coordenador, não voltei aos anos 1990 e 2000, quando os citados conquistaram Copas com o Brasil. Voltei a um período que não vivi os anos de chumbo, quando não era permitido discordar.
          Ao ouvir o discurso nacionalista do presidente da CBF, José Maria Marin, senti os pelos dos meus braços se arrepiarem de horror. Foi uma sensação terrível. Olhei para o meu filho de oito meses e fiquei feliz por saber que, quando ele tiver a minha idade, os resquícios da ditadura brasileira não estarão mais no poder.
        O tom patriota, seguindo o velho estilo "Brasil, ame-o ou deixe-o", impregna o discurso. Torna todos que criticam a decisão pela demissão em "traidores da pátria". Quer impossibilitar a discordância de ideias diante do massacre popular. Não está conosco? Então é contra nós! Pensa diferente? Seu anti! Velha tática dos políticos da Aliança Renovadora Nacional, a ARENA, da qual Marin fazia parte. E muita gente ainda compra esse nacionalismo em pleno 2012. Isso não é torcer.
        Marin iniciou sua carreira política nos anos 1960 como vereador em São Paulo pelo Partido de Representação Popular (PRP) - partido de extrema-direita, fundado por Plínio Salgado e inspirado em princípios fascistas. Anos depois, mudou-se para a ARENA junto com diversos companheiros e se elegeu deputado estadual em 1971, cargo que exerceu até 1979, quando se tornou vice-governador do estado, na chapa de Paulo Maluf.
        Notabilizou-se por discursos inflamados contra a esquerda, à essa época já massacrada e perseguida pelos agentes do Dops, perto da Estação da Luz na capital paulista. Uma de suas falas mais notórias pode ser lida neste documento hospedado pelo UOL Esporte. Página 62, do Diário Oficial do Estado de 9 de outubro de 1975.

         Em sessão com outra figura notória do esporte paulista, o falecido Wadih Helu, surgem contestações sobre o trabalho da TV Cultura, então com Vladimir Herzog como diretor de jornalismo, na cobertura de inaugurações da Sabesp em Capão Bonito. "Acusações" comunistas.
         Após as críticas de Heluh, Marin pede a palavra e cobra do governo estadual providências sobre o jornalista que "vem verificando os fatos negativos, pois não se vê nada de positivo, apresenta apenas misérias, apresenta problemas, mas não apresenta soluções".
        No final, bem eloquente pelas palavras aí descritas, Marin reforça que "é preciso mais do que nunca uma providência, a fim de que a tranquilidade volte a reinar não só nesta Casa. Mas, principalmente, nos lares paulistanos". O fim dessa história todos já conhecem.





Nenhum comentário:

Postar um comentário