sexta-feira, 30 de novembro de 2012

CONTINUAÇÃO DO TEXTO SOBRE A ÁFRICA



Uma segunda etapa (1969 a 1971) foi consagrada ao detalhamento e à
articulação do conjunto da obra. Durante esse período, realizaram-se reuniões
internacionais de especialistas em Paris (1969) e Addis-Abeba (1970), com o
propósito de examinar e detalhar os problemas relativos à redação e à publicação da obra: apresentação em oito volumes, edição principal em inglês, francês e árabe, assim como traduções para línguas africanas, tais como okiswahili, ohawsa, o peul, o yoruba ou o lingala. Igualmente estão previstas traduções para o alemão, russo, português, espanhol e chinês1, além de edições resumidas, destinadas a um público mais amplo, tanto africano quanto internacional.

1 O volume I foi publicado em inglês, árabe, chinês, coreano, espanhol, francês, hawsa, italiano, kiswahili,peul e português;

2. o volume II, em inglês,árabe, chinês, coreano, espanhol, francês, hawsa, italiano,kiswahili, peul e português;

o volume III, em inglês, árabe, espanhol e francês;

o volume IV, em inglês,árabe, chinês, espanhol, francês e português; o

o volume V,em inglês e árabe;

o volume VI, em inglês,árabe e francês;

o volume VII, em inglês, árabe, chinês, espanhol, francês e português;

 o VIII, em inglês e francês.XXIV Metodologia e prehistória da África



A terceira e última fase constituiu-se na redação e na publicação do trabalho.
Ela começou pela nomeação de um Comitê Científico Internacional de trinta e
nove membros, composto por africanos e não africanos, na respectiva proporção de dois terços e um terço, a quem incumbiu-se a responsabilidade intelectual pela obra.

Interdisciplinar, o método seguido caracterizou-se tanto pela pluralidade
de abordagens teóricas quanto de fontes. Dentre essas últimas, é preciso
citar primeiramente a arqueologia, detentora de grande parte das chaves da
história das culturas e das civilizações africanas. Graças a ela, admitem-se, nos dias atuais, reconhecer que a África foi, com toda probabilidade, o berço da
humanidade, palco de uma das primeiras revoluções tecnológicas da história,
ocorrida no período Neolítico. A arqueologia igualmente mostrou que, na
África, especificamente no Egito, desenvolveu-se uma das antigas civilizações
mais brilhantes do mundo. Outra fonte digna de nota é a tradição oral que,
até recentemente desconhecida, aparece hoje como uma preciosa fonte para
a reconstituição da história da África, permitindo seguir o percurso de seus
diferentes povos no tempo e no espaço, compreender, a partir de seu interior, a
visão africana do mundo, e apreender os traços originais dos valores que fundam as culturas e as instituições do continente.
Saber-se-á reconhecer o mérito do Comitê Científico Internacional
encarregado dessa Historia geral da Africa, de seu relator, bem como de seus
coordenadores e autores dos diferentes volumes e capítulos, por terem lançado
uma luz original sobre o passado da África, abraçado em sua totalidade, evitando todo dogmatismo no estudo de questões essenciais, tais como: o tráfico negreiro,essa “sangria sem fim”, responsável por umas das deportações mais cruéis da história dos povos e que despojou o continente de uma parte de suas forças vivas, no momento em que esse último desempenhava um papel determinante no progresso econômico e comercial da Europa; a colonização, com todas suas consequências nos âmbitos demográfico, econômico, psicológico e cultural;as relações entre a África ao sul do Saara e o mundo árabe; o processo descolonização e de construção nacional, mobilizador da razão e da paixão de pessoas ainda vivas e muitas vezes em plena atividade. Todas essas questões foram abordadas com grande preocupação quanto à honestidade e ao rigor científico, o que constitui um mérito não desprezível da presente obra. Ao fazer o balanço de nossos conhecimentos sobre a África, propondo diversas perspectivas sobre as culturas africanas e oferecendo uma nova leitura da história, a Historia geral da Africa tem a indiscutível vantagem de destacar tanto as luzes quanto assombras, sem dissimular as divergências de opinião entre os estudiosos.
Ao demonstrar a insuficiência dos enfoques metodológicos amiúde utilizados na pesquisa sobre a África, essa nova publicação convida à renovação e aprofundamento de uma dupla problemática, da historiografia e da identidade cultural, unidas por laços de reciprocidade. Ela inaugura a via, como todo trabalho histórico de valor, para múltiplas novas pesquisas.
É assim que, em estreita colaboração com a UNESCO, o Comitê Científico
Internacional decidiu empreender estudos complementares com o intuito de
aprofundar algumas questões que permitirão uma visão mais clara sobre certos
aspectos do passado da África. Esses trabalhos, publicados na coleção UNESCO.


Historia geral da Africa: estudos e documentos, virão a constituir, de modo útil, um suplemento à presente obra2. Igualmente, tal esforço desdobrar-se-á na elaboração de publicações versando sobre a história nacional ou sub-regional. Essa Historia geral da Africa coloca simultaneamente em foco a unidade histórica da África e suas relações com os outros continentes, especialmente com as Américas e o Caribe. Por muito tempo, as expressões da criatividade dos afrodescendentes nas Américas haviam sido isoladas por certos historiadores em um agregado heteróclito de africanismos; essa visão, obviamente, não corresponde àquela dos autores da presente obra. Aqui, a resistência dos escravos deportados para a América, o fato tocante ao marronage [fuga ou clandestinidade] político
e cultural, a participação constante e massiva dos afrodescendentes nas lutas da primeira independência americana, bem como nos movimentos nacionais de
libertação, esses fatos são justamente apreciados pelo que eles realmente foram:vigorosas afirmações de identidade que contribuíram para forjar o conceito universal de humanidade. É hoje evidente que a herança africana marcou, em maior ou menor grau, segundo as regiões, as maneiras de sentir, pensar, sonhar e agir de certas nações do hemisfério ocidental. Do sul dos Estados Unidos ao norte do Brasil, passando pelo Caribe e pela costa do Pacífico, as contribuições culturais herdadas da África são visíveis por toda parte; em certos casos, inclusive, elas constituem os fundamentos essenciais da identidade cultural de alguns dos elementos mais importantes da população.

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