L. F. VERISSIMO
O resto
Anders Behring Breivik é um belo espécime de raça superior. Aquela que, segundo ele, deve se defender da mestiçagem e do multiculturalismo para não perder sua identidade, sua religião e finalmente seu espaço numa Europa ocupada por inferiores. E Breivik não contribuiria apenas com sua boa estampa para hipotéticos cartazes promovendo a causa. Ele próprio é um exemplo da eficiência e da produtividade que caracterizam a raça nórdica, em contraste com as outras e com os mestiços. Fazer o que ele fez, em tão pouco tempo, requer uma organização e uma racionalização de meios incomuns. Como já se disse sobre a política de extermínio dos nazistas, abstraindo-se o resto à simples engenharia do feito foi admirável. O “resto” a ser abstraído são os milhões de seres humanos assassinados pela engrenagem mortal, certo. Mas julgada pela eficiência e a produtividade, que para Breivik distinguem os puros dos híbridos e das raças menores, a engrenagem funcionou. Seu pequeno genocídio de noruegueses inocentes também funcionou. Assim, ao mesmo tempo em que sua estampa nos mostra um ideal da raça que deve ser preservada, ele nos dá uma aula prática da sua superioridade. Se conseguirmos abstrair o “resto”, claro.
Chico
O crítico Edward Said escreveu sobre o “estilo tardio” que em muitos casos – o Beethoven dos últimos quartetos é o exemplo mais notório – distancia o artista do seu público. O artista quer evoluir e experimentar e o público quer a repetição do que gosta.
No caso do Chico Buarque, o estranhamento causado pelo seu novo CD pode durar uma ou duas audições de algumas das músicas (com outras, a rendição é instantânea), mas não resiste à terceira audição, quando o estranhamento vira encantamento. Chico experimenta com rimas insólitas e sutilezas tonais (esmiuçadas naquele antológico artigo do Artur Nestrovski sobre o disco no Estadão, e pelo Wisnik no O Globo, semana passada), letras que misturam naturalmente o coloquial e o literário, canções que se esfarelam num quase recitativo, um blues e até um dueto de amor inevitável, que termina com o moço e a moça cantando “e lalari, lairiri” em vez de completar a letra. O estilo tardio do Chico é um estilo rarefeito, mas insista. O estranhamento acaba logo. E mal dá para esperar o que virá depois.
No caso do Chico Buarque, o estranhamento causado pelo seu novo CD pode durar uma ou duas audições de algumas das músicas (com outras, a rendição é instantânea), mas não resiste à terceira audição, quando o estranhamento vira encantamento. Chico experimenta com rimas insólitas e sutilezas tonais (esmiuçadas naquele antológico artigo do Artur Nestrovski sobre o disco no Estadão, e pelo Wisnik no O Globo, semana passada), letras que misturam naturalmente o coloquial e o literário, canções que se esfarelam num quase recitativo, um blues e até um dueto de amor inevitável, que termina com o moço e a moça cantando “e lalari, lairiri” em vez de completar a letra. O estilo tardio do Chico é um estilo rarefeito, mas insista. O estranhamento acaba logo. E mal dá para esperar o que virá depois.
Definição
Ouvi uma perfeita definição de super-herói, que serve para todos:
– São aqueles caras que usam a cueca por fora das calças.
E...
E lalari, lairiri.
– São aqueles caras que usam a cueca por fora das calças.
E...
E lalari, lairiri.
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